quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A DECISÃO

Pensei em começar escrevendo como decidi usar a bicicleta como meio de trasnporte, a final de contas, deve haver algum motivo muito cabeludo pra alguém decidir tal loucura! Não é mesmo? Com tanta violência no trânsito, com tantos morros na cidade de São Paulo, você tem que ser no mínimo doido varrido para escolher se deslocar de bicicleta! Pois bem, minha decisão não foi espontânea, ela foi bem pensada. Isso foi há uns 2 anos, durante meu mestrado. Meu percurso de casa até o laboratório envolvia no mínimo duas conduções (eu não tinha carro próprio, raramente usava o carro da família). Eu variava, às vezes ia de trem + o maravilhoso circular da USP (já que estou começando, acho que vale informar que eu tenho o péssimo hábito de ser irônico). Ou ia de ônibus + ônibus, o que me obrigava a manter meu bilhete único sempre carregado. Eventualmente eu esquecia de carregar meu bilhete e tinha que pagar o dobro por isso. Mas o que realmente me incomodava nessa história toda era a falta de respeito com as pessoas que usam o transporte público. A passagem é cara e o serviço é péssimo. Nos horários de pico as pessoas são transportadas pior do que animais. O que mais me impressionava nisso tudo era a reação das pessoas dentro do trem. Ninguém manifestava nenhum sinal de desaprovação por estar passando por aquilo. Pelo contrário, as pessoas dão risada! Essa foto ao lado é um ótimo exemplo desse comportamento, se você notar tem uma indicação de um site nela (www.fotocomedia.com). Eu não acho que dar risada é ruim, só acho que nesse caso é muita acomodação! Bom, já acho que estou prolongando demais essa introdução, mas se eu teria dezenas de histórias e aspectos desses momentos dentro de um trem ou de um ônibus para contar. Bom...nesse contexto, espremido feito um limão de caipirinha, pensei que eu tinha que dar um jeito ou ficaria doente por excesso de estresse. Resolvi então, ir embora a pé! Eram 13 Km. Fui algumas vezes. Demorava 2 horas, durante as quais pensava sobre tudo. Inclusive tentei me convencer a continuar indo a pé. Eu pensava: " Duas horas...é como se fosse uma hora na academia e uma hora indo pra casa". Assim eu neutralizava a sensação de tempo perdido. Já que eu ia em ritmo apertado e corria nas subidas, não precisava ir correr parado na academia. Entre pensamento e outro pensei emcomprar uma scooter! Graças ao universo, minha preguiça em ir tirar a carteira de motociclista me impediu. Nunca pensei em comprar um carro, apesar de espremido, eu via as pessoas paradas com seus carros nas avenidas e isso não me é nada atraente, eu gosto de ir sem parar! Não lembro exatamente o momento em que decidi comprar uma bike, mas o raciocínio eu lembro. Se a pé eu demorava 2 horas, de bike eu devia demorar pelo menos a metade. Feito, consegui comprar minha bike! Gastei mais do que tinha planejado, mas quem não conhece bicicleta passa por isso mesmo (ATENÇÃO! Não compre bicicleta de supermercado!!! Uma boa bike nova dificilmente sai por menos de 800 Reais!). Finalmente eu tinha meu novo meio de transporte! Cheguei em casa com a Joana (batizada assim mais tarde), e resolvi dar uma volta no quarteirão pra sentir qual era a pegada! Eu não tinha experiência alguma em andar de bicicleta na rua...fiquei com o maior cagaço pra dar uma volta no quarteirão! Que absurdo! Hoje eu me lembro disso e dou risada! Na primeira vez que fui pro trabalho de bicicleta, escolhi o pior de todos os caminhos...até a USP pela Av. Morumbi. Quanta inocência...no meio do caminho, naquelas subidas intermináveis, pensei ter feito a maior cagada ao comprar a bike...mesmo assim, demorei uma hora e pouco. Já era mais rápido do que o ônibus! Com o tempo, experimentei diversos caminhos...diversos mesmo. Fui sentindo o prazer de andar de bike aos poucos, a cada congestionamento (os carros parados dão uma sensação de velocidade muito agradável para o ciclista), e de lembrar os momentos insuportáveis dentro dos ônibus e trens...aquele vento no rosto era muito melhor do que coca-cola! Apesar de todas aquelas adversidades que me tornavam um doido varrido citadas no início do texto, foram raras as vezes nas quais me senti ameaçado. Até comecei a sentir confiança pra pedalar na Marginal Pinheiros. É uma reta da minha casa até a USP. Hoje chego no laboratório em que fiz o Mestrado em exatos 33 minutos, sem fazer esforço! E olha que tem subida viu! Quem conhece o Departamento de Anatomia do ICB sabe que ele fica no ponto mais alto da Cidade Universitária.
Muitas vezes, caminhando (como se eu estivesse indo para a forca) em direção ao ponto de ônibus ou à estação de trem, eu ia imaginando como seria bom se eu pudesse voar! Isso é sério! Eu me imaginava voando mesmo! Por cima da cidade, com aquele vento e sorriso no rosto, tranquilo...sem pressa mas sim curtindo o caminho! Foi daí que surgiu o a expressão "EU VOU VOANDO" que dá nome ao blog da minha amiga Chantal (http://tessie27.multiply.com/)! Quando comprei a bike, consegui finalmente voar! E é por isso que eu sinto gratidão pela minha querida Joana. Ela me livrou de muito estresse, ela tornou a pior hora do meu dia, na melhor! Adoro quando chega a hora de ir embora. Todos que escolheram a bicicleta para ser seu meio de transporte são apaixonados pelo assunto, não é atoa! Pedalar é um prazer...é o prazer de ir e vir sustentável!